segunda-feira, julho 07, 2008

Comunidades Portuguesas x Futebol x Economia


 

Nos últimos tempos, o tema Comunidades Portuguesas, tem sido muito badalado na imprensa Portuguesa. As Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo, têm sido ao longo de muitas décadas os "parentes pobres" dos Governantes Portugueses, e de repente, eis que vem o Presidente da República, durante as cerimónias do Dia de Portugal, lembrar-se que as Comunidades Portuguesas são um parceiro importante para a economia portuguesa. Ainda bem, pois, mais vale tarde que nunca. Tem valido a atitude de ter um acessor, para a àrea das Comunidades Portuguesas e tem tido visitas específicas às Comunidades.

Se o papel do Presidente da República é dar relevo a este tipo de questões, já o papel do Governo, como òrgão executivo, é de colocar em prática políticas que sejam importantes para as Comunidades Portuguesas. Infelizmente os sucessivos governos de portugal têm tido um papel de retirar às Comunidades Portuguesas, a importância que as mesmas devem ter. Ao que temos assistido em muitos anos de Governos dos partidos PS/PSD/CDS, é uma fraca contribuição para as políticas em prol das Comunidades Portuguesas.

Nos dois últimos Governos de PSD/CDS e no actual Governo do PS, as Comunidades Portuguesas, têm sido o alvo, da politica economicista, e da destruição completa de alguns poucos aspectos que ainda funcionavam nas Comunidades Portuguesas.

Nas questões de ensino de língua Portuguesa, o que temos é um abandono total dos sucessivos Governos. Qualquer dia os nossos Governantes, quando deslocarem-se às Comunidades Portuguesas vão-se limitar a falar com Portugueses em outra língua que não a portuguesa. O desmantelamento dos cursos de língua portuguesa são um facto, menos apoio, menos professores, menos alunos. É escandaloso!
Neste sentido, até o apoio aos jornais regionais de portugal, como veículo informativo e de manutenção da língua portuguesa, foi cortado.

Nos apoios consulares, são os encerramentos desses postos como medida de restruturação. Encerram-se Consulados e vende-se o património, a "bem da política economicista". O serviço público português junto das Comunidades, é as Comunidades Portuguesas percorrerem centenas de quilómetros para fazerem actos consulares (passaportes, BI, certidões, registos de nascimento, etc, etc).

Com a situação da contagem para a reforma dos ex-combatentes que vivem nas Comunidades, é uma luta que demora há anos, e promessas governamentais têm sido muitas. Infelizmente a aplicação da lei, foi atirada para a calendas gregas.

Ás questões dos novos fluxos migratórios portugueses, onde milhares de pessoas têm tomado novos rumos, dado as debilidades económicas e sociais que existem em Portugal, tem sido um grande problema e uma vergonha pelos contronos que tem. Existem actualmente situações, bem piores que nos anos 60, onde milhares de pessoas também procuraram a emigração em vários continentes.

Os Govenantes Portugueses tratam as Comunidades Portuguesas, como se fossem algo de menor, dando show-off em coisas que são muito pouco importantes no dia a dia das Comunidades.
Veja-se a questão dos Prémios Talento, em que foi transmitido em directo pela RTP1. Até parece a atribuição dos "Oscar's das Comunidades", tudo o que está por detraz desta orgânica (a forma de concorrer e a forma de atribuição do prémio) é simplesmente a promoção pessoal de quem organiza. Os premiados, que certamente até poderão ter o seu mérito, são instrumentos de toda essa promoção pessoal.

Nas últimas semanas, veio o Campeonato Europeu de futebol na Suiça, e novamente aproveitam-se os governantes e os média, com a força "dos migras", que até são importantes para darem uma forcinha a Portugal e dão nas vistas os potenciais, dessas comunidades.

No programa Prós e Contras da RTP, veio à discussão a coesão ou alienação nacional, atravéz do fenómeno do futebol e foram tomadas em consideração durante a discussão, as Comunidades Portuguesas.

Claro que nada veio de novo nesta discussão, pois quem conhece e vive com as Comunidades Portugesas, sabe que elas sentem muito mais a questão patriótica, fora de Portugal, comparativamente aqueles que vivem em Portugal.

Os jovens nas Comunidades Portuguesas, sentem muito mais, essa identidade, pois no seu dia a dia, são confrontados com outras culturas, e existe algo de muito especial e será talvez inexplicavél, que os nossos filhos e netos, têm grande orgulho de carregarem com eles as cores nacionais, ou seja numa bandeira, ou numa simples camisola com as cores de Portugal, sendo assim não só no futebol, mas sempre, que haja algum acontecimento desportivo, que esteja presente a representação Portuguesa.

A isto só se deve o trabalho de muitas centenas Associações Portuguesas, de muitas centenas de Comissões de Pais das Escolas Portuguesas, dos professores de língua portuguesa, e de muitos milhares de voluntários que muito que se têm dedicado ás questões das Comunidades Portuguesas, em muitas vezes, sem qualquer apoio de Portugal.

Lamentávelmente a tudo isto os Governantes Portugueses têm estado alheios ao longo de muitos anos.
O Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), tem várias recomendações no sentido de alertar para o potencial económico das Comunidades Portuguesas, mas teria como "moeda de troca" uma outra atitude política dos Governantes de Portugal. Mas o caminho que tem sido traçado pelos Governos de Portugal tem sido outro.

Também uma questão que os Governos de Portugal, têm de começar a tomar em consideração mas a sério, é a questão do recenseamento eleitoral, para as Comunidades Portuguesas e todo o sistema que o envolve. Neste momento as Comunidades Portuguesas abrangem somente 180.000 recenseados, dos quais somente cerca de 15.000 participam nas eleições, para eleger quatro Deputados. Tudo isto num universo de cerca de 5 milhões, pois o receseamento não é obrigatório.
E como poderia ser obrigatório, com base na actual lei, que tem de ser feito presencialmente, no Consulado ou Embaixada de Portugal. Milhares de pessoas não estarão nada interesados em deslocar-se centenas de quilómetros ou em alguns casos milhares, para fazerem o seu resenceamento.
Um bom exemplo são os Espanhóis tem este trabalho simplificado, com a inscrição consular, que torna de imediato o recenseamento eleitoral válido.

Enfim, as Comunidades Portuguesas são certamente um potêncial económico, mas necessitam de políticas sérias dos Governos Portugueses, e que as mesmas Comunidades não sejam aproveitadas para os momentos, que melhor interessa aos políticos.

José Xavier (*)

(*) Membro do Conselho das Comunidades Portuguesas.